Um ar estranho de o querer bem onde quer que ele esteja. Mas ar frio. Ar de chuva. Ar em movimento de vento gelado tocando a pele, inesperadamente, numa manhã fria de primavera. Nostalgicamente você vê tudo nublado. As flores aconchegadas em seus lares, o sol tirando uma folga, e o vento se encarregando de dar conta de todo e qualquer efeito. Meu coração quase tem vontade de dizer “Prazer, estou tão gelado quanto você!”, mas o vento não dá tempo. Passa correndo, passa gelando, passa e volta. E nunca tem tempo para uma exclamação. Assim como ele. Ocupado demais, passa e volta, e nunca fica. O vento não percebe que, de certa forma ele precisa de mim. De nada teria sentido passar e voltar se não pudesse tocar. A pele. A emoção. Um coração, talvez. Mas não tem tempo, nunca! Precisa correr do sol. Foge do calor. Calor permanente para o vento desaconchega. E o vento tem medo de não ser mais dono de si. Entregado num calor constante e passageiro de inúmeras peles, passa e volta. E passa. Como hoje, o vento prefere dias nublados. Passa, toca a pele, vai, deixa o frio. Eu odeio dias de chuvas porque o toque do vento, seu frio, me faz lembrar de como éramos quentes juntos. Num momento em que ele, o vento, passou e ficou, pra mais além partir pra nunca mais. Passou pra não voltar. Passou. E ficou por lá.
-Vento, volta? Tá tão triste sentir a chuva sem o teu ar pra me esquentar.
Como numa equação de matemática, onde sinais iguais, mesmo que negativos, dão positivos, dois corações gelados se esquentavam. E eu sinto falta até do teu frio. Da tua frieza passa e volta. Que passou e não voltou.
-Vento, volta?