'Tentei ser como eles,todos tão iguais, mas no mundo onde vivo, todo mundo ama alguém a mais - ou nunca amou.'

domingo, 28 de novembro de 2010

Da minha infância e de uns motivos quaisquer


Quando eu era pequena, as coisas eram bem mais difíceis que hoje. Minha mãe por sua vez, por algum tempo trabalhou os três períodos lecionando em cidades diferentes. Quando eu levantava ela já tinha saído. Quando ela chegava eu já estava dormindo. Eu mal via a minha mãe, mas sentia seu bom dia carinhoso todos os dias, de forma concreta. Sempre que eu acordava havia um montinho de balas de iogurte ao lado da minha cama. Às vezes tinha umas moedinhas também, para eu comprar lanche na escola, e lembrar dela de novo.

Diariamente, eu vivia muito sozinha. Acho até que foi nessa fase que fiquei uma pessoa sentimental. Odiava ficar sozinha. Aquele imenso vazio daquela antiga casa pequena me engolia. Eu tinha medo das vozes do silêncio e da angustia dentro de mim.

No colégio, eu era quase sempre triste também. Acho que era o silêncio da casa me acompanhando. Eu fingia, fazia brincadeiras, conversava com todo mundo, mas o tempo todo eu sentia vontade de morrer. Aquele vazio, aquela superficialidade, a ausência dos meus pais no dever de casa, isso tudo me doía. Eles sabiam que eu era inteligente e dava conta de fazer os deveres certinho. Mas eu só queria eles mais perto, pra fingir que eu errava uma conta ou uma gramática, para que eles apagassem e dissessem como se fazia certo. Eu era apenas uma criança. E eles, dois adultos que precisavam garantir o futuro dessa criança.

Muitas vezes a solidão não tem culpados.

As coisas amadureceram. Hoje eu saio para trabalhar e muitas vezes a mãe está dormindo. Quando chego do trabalho ela também quase sempre já foi deitar. Os papéis se inverteram. A criança cresceu. Eles me deram um futuro. E hoje sou eu quem ensina meus alunos a fazer suas tarefas. Mas o vazio continua o mesmo. O vazio não fez aniversário, nem mudou o número de vestir ou de calçar.

Hoje eu acordo e não tem mais balinhas de iogurte e nem dinheirinho. Aliás, quando chupo as mesmas balas, da mesma marca, eu não sinto o mesmo sabor que eu sentia. O meu quarto é mais bonito, muito melhor mobilhado, mas o vazio continua o mesmo. Lá fora, no serviço ou na rua, as pessoas continuam superficiais, ainda mais frias que no passado. E eu carrego o silêncio de antigamente como alguém que tem uma marquinha de queimadura que não vai sarar nunca.

Queria voltar pra dentro da barriga da minha mãe. Bem lá onde o vazio do mundo ainda não tinha me infectado. Tanto queria que na maioria das noites durmo contorcida, em posição de feto, buscando uma fuga. Hoje eu não odeio mais o silêncio. É o silêncio que me conforta. Nele eu fico longe do resto que dói. Acho que quando ele doía, era porque o que havia fora ainda não havia internalizado dentro. Os papéis trocaram. Agora é só ele que me conforta. No silêncio, o vazio se sente em casa, se sente bem.

No silêncio o meu vazio entende que aquelas balinhas de iogurte era uma forma de minha mãe tentar adoçar o que ela sabia que a vida viria com tudo amargando. Judiando. Esvaziando.

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Eu espero que meus punhos possam lutar por dois...




'(...)Alguém talvez pense
que estamos bem
Mas precisamos de pílulas
pra dormir a noite.
Precisamos de mentiras
para aguentar o dia
Não estamos bem.'

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Tempo, desapareça!

O mundo dá voltas, e a gente perdoa até sem querer.
Mas eu quis.
Achava que perdoar e esquecer eram sinônimos.
E agora quero de novo.
Ao menos não são antônimos.
Já chega de dois extremos negativos.
Quanto maior o ódio, foi amor maior.
Te perdoo se te esqueço.
Se te esqueço, te perdoo?
Preciso de algo que seja sinônimo de paz
E seja antônimo de tudo isso que não me deixa aqui, dormir, agora.