'Tentei ser como eles,todos tão iguais, mas no mundo onde vivo, todo mundo ama alguém a mais - ou nunca amou.'

terça-feira, 28 de dezembro de 2010

E por falar em saudade, onde anda você?


E por falar em saudade onde anda você
Onde andam seus olhos que a gente não vê
Onde anda esse corpo
Que me deixou louco de tanto prazer
E por falar em beleza onde anda a canção
Que se ouvia na noite dos bares de então
Onde a gente ficava,onde a gente se amava
Em total solidão
Hoje eu saio da noite vazia
Numa boemia sem razão de ser
Na rotina dos bares,que apesar dos pesares
Me trazem você
E por falar em paixão, em razão de viver
Você bem que podia me aparecer
Nesses mesmos lugares, na noite, nos bares
Onde anda você.

Vinícius de Moraes



sábado, 25 de dezembro de 2010

Então, é Natal...

Lembro que no Natal do ano passado, dentre tantos presentes, eu esperava abrir uma caixa ou um pacote qualquer em que eu encontrasse um amor. Há muitos Natais eu já não acreditava que pudesse amar ou ser amada sinceramente outra vez. Talvez primeira vez, já que o que eu pensei tanto tempo ser amor nem era amor tanto assim, não da outra parte. Bem, abri todas as caixas, todos os pacotes, e nada. O Ano Novo chegou, semanas se passaram, e o que eu achei que era a minha encomenda, realmente tinha chego. É estranho como deciframos Deus. Falamos ‘Ele mandou meu presente!’... E nem paramos para pensar que Ele pode nem ter nada a ver com aquilo, e que podemos estar entendendo tudo errado.

Hoje, finalmente, eu entendo certo. Eu não tinha ganhado aquilo de presente de Deus. O que Deus te dá de presente, sofrimento nenhum tira e lágrima nenhuma gera. É, eu havia entendido mesmo tudo errado! Tanto que neste Natal, eu pedi ‘Por favor, Pai, eu não quero um amor! Eu não quero amar e nem pensar que estou sendo amada. ’

Hoje acabei de abrir meus presentes, nada chegou. Espero que os perfumes, as pratas, as roupas, as sandálias me façam feliz sem arrancar lágrimas e sem deixar a dor quando acabarem. Não, eu não quero amar de novo. Não enquanto for para eu amar quem nem sabe o que é o amor.


'Eu amei
Eu amei, ai de mim, muito mais
Do que devia amar
E chorei
Ao sentir que iria sofrer
E me desesperar

Foi então
Que da minha infinita tristeza
Aconteceu você
Encontrei em você a razão de viver
E de amar em paz
E não sofrer mais
Nunca mais

Porque o amor é a coisa mais triste
Quando se desfaz

(Mas...)

O amor é a coisa mais triste quando se desfaz'

Vinícius de Moraes

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Como vai, você?


Há pensamentos que são orações. Há momentos nos quais, seja qual for a posição do corpo, a alma está de joelhos.

Victor Hugo


sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Viu só o que esse amor te causou?

O Amor me fez perder tudo. A razão, o coração, a vaidade, as escolhas. O Amor me deu de presente a descrença, a doença , a falta de fé. O Amor chegou disfarçado de cura para os traumas, para as faltas e para as promessas. E quando mostrou sua cara só havia um infinito vazio sem cor. O Amor desmereceu seu nome. Restos, destroços, cacos. Cacos de perdas cortam mais que cacos de vidro. O Amor deveria ter sido registrado com outro nome... João, José... menos Amor. Gente que é gente não corta, dá flores.

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010


A chaminé da minha casa deveria servir para entrar o céu e não pra sair fumaça. (Mia Couto)


domingo, 28 de novembro de 2010

Da minha infância e de uns motivos quaisquer


Quando eu era pequena, as coisas eram bem mais difíceis que hoje. Minha mãe por sua vez, por algum tempo trabalhou os três períodos lecionando em cidades diferentes. Quando eu levantava ela já tinha saído. Quando ela chegava eu já estava dormindo. Eu mal via a minha mãe, mas sentia seu bom dia carinhoso todos os dias, de forma concreta. Sempre que eu acordava havia um montinho de balas de iogurte ao lado da minha cama. Às vezes tinha umas moedinhas também, para eu comprar lanche na escola, e lembrar dela de novo.

Diariamente, eu vivia muito sozinha. Acho até que foi nessa fase que fiquei uma pessoa sentimental. Odiava ficar sozinha. Aquele imenso vazio daquela antiga casa pequena me engolia. Eu tinha medo das vozes do silêncio e da angustia dentro de mim.

No colégio, eu era quase sempre triste também. Acho que era o silêncio da casa me acompanhando. Eu fingia, fazia brincadeiras, conversava com todo mundo, mas o tempo todo eu sentia vontade de morrer. Aquele vazio, aquela superficialidade, a ausência dos meus pais no dever de casa, isso tudo me doía. Eles sabiam que eu era inteligente e dava conta de fazer os deveres certinho. Mas eu só queria eles mais perto, pra fingir que eu errava uma conta ou uma gramática, para que eles apagassem e dissessem como se fazia certo. Eu era apenas uma criança. E eles, dois adultos que precisavam garantir o futuro dessa criança.

Muitas vezes a solidão não tem culpados.

As coisas amadureceram. Hoje eu saio para trabalhar e muitas vezes a mãe está dormindo. Quando chego do trabalho ela também quase sempre já foi deitar. Os papéis se inverteram. A criança cresceu. Eles me deram um futuro. E hoje sou eu quem ensina meus alunos a fazer suas tarefas. Mas o vazio continua o mesmo. O vazio não fez aniversário, nem mudou o número de vestir ou de calçar.

Hoje eu acordo e não tem mais balinhas de iogurte e nem dinheirinho. Aliás, quando chupo as mesmas balas, da mesma marca, eu não sinto o mesmo sabor que eu sentia. O meu quarto é mais bonito, muito melhor mobilhado, mas o vazio continua o mesmo. Lá fora, no serviço ou na rua, as pessoas continuam superficiais, ainda mais frias que no passado. E eu carrego o silêncio de antigamente como alguém que tem uma marquinha de queimadura que não vai sarar nunca.

Queria voltar pra dentro da barriga da minha mãe. Bem lá onde o vazio do mundo ainda não tinha me infectado. Tanto queria que na maioria das noites durmo contorcida, em posição de feto, buscando uma fuga. Hoje eu não odeio mais o silêncio. É o silêncio que me conforta. Nele eu fico longe do resto que dói. Acho que quando ele doía, era porque o que havia fora ainda não havia internalizado dentro. Os papéis trocaram. Agora é só ele que me conforta. No silêncio, o vazio se sente em casa, se sente bem.

No silêncio o meu vazio entende que aquelas balinhas de iogurte era uma forma de minha mãe tentar adoçar o que ela sabia que a vida viria com tudo amargando. Judiando. Esvaziando.

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Eu espero que meus punhos possam lutar por dois...




'(...)Alguém talvez pense
que estamos bem
Mas precisamos de pílulas
pra dormir a noite.
Precisamos de mentiras
para aguentar o dia
Não estamos bem.'

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Tempo, desapareça!

O mundo dá voltas, e a gente perdoa até sem querer.
Mas eu quis.
Achava que perdoar e esquecer eram sinônimos.
E agora quero de novo.
Ao menos não são antônimos.
Já chega de dois extremos negativos.
Quanto maior o ódio, foi amor maior.
Te perdoo se te esqueço.
Se te esqueço, te perdoo?
Preciso de algo que seja sinônimo de paz
E seja antônimo de tudo isso que não me deixa aqui, dormir, agora.

segunda-feira, 25 de outubro de 2010


A Felicidade Pode Demorar
(Luiz Fernando Veríssimo)


Ás vezes as pessoas que amamos nos magoam, e nada podemos fazer senão continuar nossa jornada com nosso coração machucado. Às vezes nos falta esperança.
Às vezes o amor nos machuca profundamente, e vamos nos recuperando muito lentamente dessa ferida tão dolorosa.
Às vezes perdemos nossa fé, então descobrimos que precisamos acreditar, tanto quanto precisamos respirar.. é nossa razão de existir.
Às vezes estamos sem rumo, mas alguém entra em nossa vida, e se torna o nosso destino.
Às vezes estamos no meio de centenas de pessoas, e a solidão aperta nosso coração pela falta de uma única pessoa.
Às vezes a dor nos faz chorar, nos faz sofrer, nos faz querer parar de viver, até que algo toque nosso coração, algo simples como a beleza de um por do sol, a magnitude de uma noite estrelada, a simplicidade de uma brisa batendo em nosso rosto, é a força da natureza nos chamando para a vida.
Você descobre que as pessoas que pareciam ser sinceras e receberam sua confiança, te traíram sem qualquer piedade. Você entende que o que para você era amizade, para outros era apenas conveniência, oportunismo.
Você descobre que algumas pessoas nunca disseram eu te amo, e por isso nunca fizeram amor, apenas transaram.. descobre também que outras disseram eu te amo uma única vez e agora temem dizer novamente, e com razão, mas se o seu sentimento for sincero poderá ajudá-las a reconstruir um coração quebrado.
Assim ao conhecer alguém, preste atenção no caminho que essa pessoa percorreu, são fatores importantes...
Não deixe de acreditar no amor, mas certifique-se de estar entregando seu coração para alguém que dê valor aos mesmos sentimentos que você dá, manifeste suas idéias e planos, para saber se vocês combinam, e certifique-se de que quando estão juntos aquele abraço vale mais que qualquer palavra.. esteja aberto a algumas alterações, mas jamais abra mão de tudo, pois se essa pessoa te deixar, então nada irá lhe restar.
Aproveite sua familia que é uma grande felicidade, quando menos esperamos iniciam-se períodos difíceis em nossas vidas.
Tenha sempre em mente que às vezes tentar salvar um relacionamento, manter um grande amor, pode ter um preço muito alto se esse sentimento não for recíproco, pois em algum outro momento essa pessoa irá te deixar e seu sofrimento será ainda mais intenso, do que teria sido no passado. Pode ser difícil fazer algumas escolhas, mas muitas vezes isso é necessário, existe uma diferença muito grande entre conhecer o caminho e percorrê-lo.
Não procure querer conhecer seu futuro antes da hora, nem exagere em seu sofrimento, esperar é dar uma chance à vida para que ela coloque a pessoa certa em seu caminho.

"A tristeza pode ser intensa, mas jamais será eterna. A felicidade pode demorar a chegar, mas o importante é que ela venha para ficar e não esteja apenas de passagem..."


terça-feira, 19 de outubro de 2010

Quase Indefinido


Um quarto diferenciado. Um dia bem vivido. Um elogio bem recebido. Um pograma bom na TV. Uma explosão de não entendimento por dento. Uma insônia. Nenhuma saudade. Um plano.

- Não, eu não tenho um plano.

Ele é que o tem.

domingo, 17 de outubro de 2010

Eis que surge uma filosofia descascando amendoim...



A mão é a vida. Os amendoins somos nós. Vamos ao forno, passamos por um terrível calor até torrar-nos.

Aí é preciso que a vida descasque. E isso requer paciência, cuidado para deixá-los inteiro, sem hematomas. Dentre a imensidão, muitos não resistem, morrem queimados pela combustão, outros ficam feridos e marronzinhos demais, sem utilidade. Os melhores se salvam. Ficam no ponto. Resistem a todo o doloroso processo. São fortes.

As mãos que os descascam fazem carinho naqueles que saem perfeitos, begezinhos, gordos e lindos. Tem os magrinhos delicados também, merecedores de admiração. As mãos admiram aquilo que ela seleciona. Sente muito diante aqueles que ela precisa jogar fora. Mas fazer o quê? São os que não conseguiram resistir.

Assim somos nós, amendoins em processo degustador. Nascemos, vamos sendo calmamente preparados para o terrível processo da aprendizagem e amadurecimento. Vamos ao fogo. Passamos por terríveis provações. Precisamos resistir. Pois depois que toda a dor passar a vida vai admirar a conclusão do processo, vai acariciar a beleza que surgirá.

Há os que se deixam queimar. Desistem. Perdem a esperança da recompensa. Perdem a fé na vida e em si mesmos. Não conseguem acreditar que superarão. Que será todo o processo da dor que os fará ganhar o sabor.

Aos que resistem vem a recompensa. Quem os prova sente o quanto há de encanto em no gosto, admiram sua estrutura perfeita e veem como ‘aquele’ se diferencia daqueles que morreram pelo caminho.

Há quem não goste de amendoim e ache tudo isso bobageira. Uma pena. Vão provar frutas, doces... outros licores talvez. Que provavelmente não tenham passado por esse metamorfósico processo. Não vão sentir o gosto do amendoim vencedor. Vão gozar da fruta ou do doce, mas não vão os admirar.E prazer sem admiração é só satisfação momentânea. Prazer vazio. Ilusão e prazer.

Degustação requer admiração. Ou não. Tem gente que come por comer. Uma pena. Não enchem barriga. Não nutrem-se. Perdem as preciosas vitaminas que esse grão contém.

Perdem a minha vitamina. Eu amendoim, begezinha e rechonchuda, toda admirada pela mão que me descascou. Admirada por toda uma vida bem amadurecida. Toda superada da combustão. Sobrevivida e pronta para ser provada pelas melhores bocas, tais que saberão devidamente degustar e gozar do meu sabor. Com admiração.

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

A vida é doce depressa demais



Essa crônica tem latejado no meu entendimento. De repente, somos capazes de compreender que o amor acaba. Que podemos superar aquilo que os anjos mandaram de presente ao mundo, mas que o mundo estava vazio demais pra aceitar. Aceitar o amor. Que sem a aceitação, acaba.


O amor acaba - Paulo Mendes Campos

O amor acaba. Numa esquina, por exemplo, num domingo de lua nova, depois de teatro e silêncio; acaba em cafés engordurados, diferentes dos parques de ouro onde começou a pulsar; de repente, ao meio do cigarro que ele atira de raiva contra um automóvel ou que ela esmaga no cinzeiro repleto, polvilhando de cinzas o escarlate das unhas; na acidez da aurora tropical, depois duma noite votada à alegria póstuma, que não veio; e acaba o amor no desenlace das mãos no cinema, como tentáculos saciados, e elas se movimentam no escuro como dois polvos de solidão; como se as mãos soubessem antes que o amor tinha acabado; na insônia dos braços luminosos do relógio; e acaba o amor nas sorveterias diante do colorido iceberg, entre frisos de alumínio e espelhos monótonos; e no olhar do cavaleiro errante que passou pela pensão; às vezes acaba o amor nos braços torturados de Jesus, filho crucificado de todas as mulheres; mecanicamente, no elevador, como se lhe faltasse energia; no andar diferente da irmã dentro de casa o amor pode acabar; na epifania da pretensão ridícula dos bigodes; nas ligas, nas cintas, nos brincos e nas silabadas femininas; quando a alma se habitua às províncias empoeiradas da Ásia, onde o amor pode ser outra coisa, o amor pode acabar; na compulsão da simplicidade simplesmente; no sábado, depois de três goles mornos de gim à beira da piscina; no filho tantas vezes semeado, às vezes vingado por alguns dias, mas que não floresceu, abrindo parágrafos de ódio inexplicável entre o pólen e o gineceu de duas flores; em apartamentos refrigerados, atapetados, aturdidos de delicadezas, onde há mais encanto que desejo; e o amor acaba na poeira que vertem os crepúsculos, caindo imperceptível no beijo de ir e vir; em salas esmaltadas com sangue, suor e desespero; nos roteiros do tédio para o tédio, na barca, no trem, no ônibus, ida e volta de nada para nada; em cavernas de sala e quarto conjugados o amor se eriça e acaba; no inferno o amor não começa; na usura o amor se dissolve; em Brasília o amor pode virar pó; no Rio, frivolidade; em Belo Horizonte, remorso; em São Paulo, dinheiro; uma carta que chegou depois, o amor acaba; uma carta que chegou antes, e o amor acaba; na descontrolada fantasia da libido; às vezes acaba na mesma música que começou, com o mesmo drinque, diante dos mesmos cisnes; e muitas vezes acaba em ouro e diamante, dispersado entre astros; e acaba nas encruzilhadas de Paris, Londres, Nova Iorque; no coração que se dilata e quebra, e o médico sentencia imprestável para o amor; e acaba no longo périplo, tocando em todos os portos, até se desfazer em mares gelados; e acaba depois que se viu a bruma que veste o mundo; na janela que se abre, na janela que se fecha; às vezes não acaba e é simplesmente esquecido como um espelho de bolsa, que continua reverberando sem razão até que alguém, humilde, o carregue consigo; às vezes o amor acaba como se fora melhor nunca ter existido; mas pode acabar com doçura e esperança; uma palavra, muda ou articulada, e acaba o amor; na verdade; o álcool; de manhã, de tarde, de noite; na floração excessiva da primavera; no abuso do verão; na dissonância do outono; no conforto do inverno; em todos os lugares o amor acaba; a qualquer hora o amor acaba; por qualquer motivo o amor acaba; para recomeçar em todos os lugares e a qualquer minuto o amor acaba.