'Tentei ser como eles,todos tão iguais, mas no mundo onde vivo, todo mundo ama alguém a mais - ou nunca amou.'

sábado, 26 de fevereiro de 2011

Efemeridade diferenciada


Eu tinha uma ferida. Dessas que achamos que não vai sarar jamais. Então apareceu um remédio que curou. Como era um experimento, teve seu efeito colateral. Curou a ferida, mas começou a interferir outros órgãos, criando uma outra doença. Persistiu, se espalhou, enraizou.

Foi então que me sugeriram uma nova droga, outro experimento. Alguém que está ferido e precisa da cura costuma não evitar muito a medicação. Mas quando estamos bastante acostumados ao fracasso de alguns métodos, de início não botei muita fé.

O medicamento funcionou, quase que de efeito imediato! Regenerou os órgãos atingidos, diminuiu quase que em totalidade as dores diárias. Eu diria até que mudou o ânimo e o humor. Não teve efeito colateral. Pior que isso, ACABOU O ESTOQUE.

Como sabemos que parar com a medicação sem encerrar o tratamento pode fracassar o sucesso, ontem um órgão latejou de dor. Hoje outro acordou danificado. Agora são dores voltando juntamente com a abstinência e precisão urgentíssima do novo medicamento.

Será que o carinho, a importância e o querer bem também entraram em falta na farmácia da vida? O amor já está em falta faz tempo... Tanto que solucionaram o problema substituindo-o pela efemeridade.

Infelizmente a minha dor não é efêmera. Muito menos passageira, Há restos, destroços e saudades inclusas. Sim, eu aceito uma nova droga. Só precisarei verificar se tem estoque o bastante para o tratamento, caso este venha a ter sucesso. Porque pior que o fracasso de um experimento, é o seu sucesso sem o gosto do dia seguinte.

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Quando nem todos os dias são dias de sol



'Todos temos os nossos momentos de fraqueza, ainda o que nos vale é sermos capazes de chorar, o choro muitas vezes é uma salvação, há ocasiões em que morreríamos se não chorássemos.'
(José Saramago - Ensaio Sobre a Cegueira, p.108)

Coração nem sempre é só um órgão...




Macabéa:
Glória, você me arruma uma aspirina?


Glória: Por que é que você me pede tanta aspirina? Não estou reclamando, mas isso custa dinheiro.

Macabéa: É para eu não me doer.

Glória: Como é que é? Hein? Você se dói?

Macabéa: Eu me dôo o tempo todo.

Glória: Aonde?

Macabéa: Dentro. Não sei explicar.

(Clarice Lispector, in 'A Hora da Estrela')

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Catarse

O mundo dá voltas. Ele para exatamente onde você deixou coisas pendentes. O tempo, as circunstâncias e o ambiente têm influência sobre nós. Coisas que antigamente, em hipótese alguma, faríamos, passam a virar parte da rotina. E são partes essenciais até resolvermos a pendência. Muitas vezes para em vão, deixando-nos sem respostas às perguntas que percorreram fiéis em todas as voltas. Então, prosseguimos. Firmes ou não. Mas continuamos o caminho. Dando mais voltas e voltas, conhecendo mais pessoas, adquirindo novas feriadas e curando velhas. Para parar exatamente no que ficou pendente. Infinitas vezes... Até que tenhamos uma simples resposta para seguir e não parar mais.

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Me responde que te esqueço!


Quando eu era pequena minha mãe me ensinou que não se pode comparar a dor de uma pessoa com a de outra, porque cada qual tem sua intensidade e justificativa. Hoje ela tenta me convencer que é assim para o amor também. Eu não concordo. Quem ama demonstra. Quem ama cuida. Quem ama não te faz só uma opção, mas uma prioridade.


- Está 'amando, amando, amando' ???

- Sim, amando!

- Mentira!


Dentre tantos milagres, 'bom dia' ainda não virou 'amor'.