Eu tinha uma ferida. Dessas que achamos que não vai sarar jamais. Então apareceu um remédio que curou. Como era um experimento, teve seu efeito colateral. Curou a ferida, mas começou a interferir outros órgãos, criando uma outra doença. Persistiu, se espalhou, enraizou.
Foi então que me sugeriram uma nova droga, outro experimento. Alguém que está ferido e precisa da cura costuma não evitar muito a medicação. Mas quando estamos bastante acostumados ao fracasso de alguns métodos, de início não botei muita fé.
O medicamento funcionou, quase que de efeito imediato! Regenerou os órgãos atingidos, diminuiu quase que em totalidade as dores diárias. Eu diria até que mudou o ânimo e o humor. Não teve efeito colateral. Pior que isso, ACABOU O ESTOQUE.
Como sabemos que parar com a medicação sem encerrar o tratamento pode fracassar o sucesso, ontem um órgão latejou de dor. Hoje outro acordou danificado. Agora são dores voltando juntamente com a abstinência e precisão urgentíssima do novo medicamento.
Será que o carinho, a importância e o querer bem também entraram em falta na farmácia da vida? O amor já está em falta faz tempo... Tanto que solucionaram o problema substituindo-o pela efemeridade.
Infelizmente a minha dor não é efêmera. Muito menos passageira, Há restos, destroços e saudades inclusas. Sim, eu aceito uma nova droga. Só precisarei verificar se tem estoque o bastante para o tratamento, caso este venha a ter sucesso. Porque pior que o fracasso de um experimento, é o seu sucesso sem o gosto do dia seguinte.